Reuters/msnbc/The Giving Pledge
Foto: Anthony Bolante/Reuters
*Livre tradução resumida
Provavelmente você já sabia disso. Warren Buffet, um dos três homens mais ricos do mundo, anunciou em 2006 que doaria 99% de sua fortuna em benefício de atividades filantrópicas, seja em vida ou após sua morte. A notícia por si só apenas ressalta que ele está de fato cumprindo com o anunciado. O que mais me chamou a atenção foi outra iniciativa dele e Bill Gates, o projeto "The Giving Pledge" (sítio em inglês aqui), mais ou menos como um "Apelo à Caridade". Leia mais abaixo, depois da notícia, a transcrição da mensagem deixada por Warren Buffet no site. Vale a pena.
O investidor Warren Buffet doou mais US$ 1,5 bi à Fundação Bill & Melinda Gates como parte do seu plano iniciado em 2006, de reverter 99% de sua fortuna para atividades sociais. De acordo com um documento do órgão regulador de ações do mercado americano, ele doou 19,34 milhões de ações classe B da sua companhia, a Berkshire Hathaway, para a Fundação Gates.
[...] Bill Gates, co-fundador da Microsoft e também diretor da Berkshire Hathaway, junto com sua esposa, Melinda, criaram a Fundação Gates nos anos 90 como forma de encontrar soluções para problemas de educação, saúde e pobreza.
[...] Buffet e Gates lançaram um esforço em prol da filatropia em junho de 2010, The Giving Pledge, no qual conclamam as famílias e indivíduos mais ricos dos Estados Unidos a se comprometerem em doar a maior parte de suas fortunas para obras de caridade. Desde o início do projeto, dezenas de bilionários aderiram ao projeto.
Abaixo, a carta de Warren Buffet, no site Giving Pledge, também em livre tradução. Dentro do sítio, podemos encontrar depoimentos de importantes líderes empresariais americanos, como Paul G. Allen (sócio co-fundador da Microsoft), Michael Bloomberg (da rede de notícias Bloomberg), Larry Ellison (CEO da Oracle), o magnata das comunicações Ted Turner e Mark Zuckerberg (Facebook).
Em 2006, me comprometi a doar, gradualmente, todas as minhas ações da Berkshire Hathaway para instituições filantrópicas. Não poderia estar mais feliz com essa decisão.
Agora, eu, Bill e Melinda Gates estamos pedindo aos cidadão mais ricos dos Estados Unidos que se comprometam em doar, pelo menos, 50% de suas fortunas para a caridade. Acho oportuno, portanto, reiterar minhas intenções e explicar as razões por trás deste projeto.
Em primeiro lugar, meu compromisso: mais de 99% do meu patrimônio pessoal irá para a filantropia, seja em vida ou após a morte. Medido em dólares, tal nível de comprometimento parece realmente alto. Comparativamente, no entanto, há muita gente doando bem mais do que isso diariamente.
Milhões de pessoas que contribuem regularmente para igrejas, escolas e outras organizações por vezes estão abrindo mão de usar o dinheiro para benefício próprio. Os dólares que estes indivíduos deixam em coletas para obras assistenciais ou para organizações de comunidades locais significam recursos a menos para ir ao cinema, um jantar fora de casa ou realização de outras atividades prazerosas. Em contraste, eu e minha família não precisaremos abrir mão de nada do que precisamos ou queremos para cumprir a meta dos 99%.
Além disso, este comprometimento não leva em conta o principal e mais precioso ativo na atividade filantrópica, que é o tempo. Muitas pessoas, incluindo - e estou orgulhoso em dizer isso - meus três filhos, dedicam boa parte do seu tempo e dos seus talentos para ajudar os outros. Presentes deste tipo frequentemente se mostram mais valiosos do que o dinheiro. Uma criança carente que recebe cuidados e alimento de um voluntário recebe, na verdade, um presente cujo valor excede aquilo que pode ser escrito em um cheque. Minha irmã Doris se dedica muito à tarefa de ajudar pessoalmente os outros no dia-a-dia. Eu tenho feito pouco sob essa ótica.
O que posso fazer, entretanto, é pegar uma parte das ações da Berkshire - as quais podem ser convertidas em dinheiro e assim gerar recursos de boa monta - e destiná-las em benefício daqueles que, por infortúnios pessoais, receberam os "canudos mais curtos" na vida. Até o momento, 20% das minhas ações foram distribuídas (incluindo as ações da minha última esposa, Susan). Eu continuarei a distribuir anualmente 4% das ações que detenho. No mais tardar, em 10 anos todos os rendimentos das minhas ações da Berskshire Hathaway serão gastos em atividades filantrópicas, até que não sobre mais nada. Nada será deixado para herança. Eu quero que o dinheiro seja gasto com os mais necessitados.
Esta resolução em nada afeta meu modo de vida, bem como o dos meus filhos. Eles já receberam significativas somas para uso pessoal e receberão mais no futuro. Eles vivem de maneira confortável e produtiva. E eu continuarei a viver de maneira que me permita ter tudo o que eu possivelmente quiser em vida.
Alguns bens materiais tornam minha vida mais prazerosa; outros, contudo, não. Gosto de ter um jatinho privado, mas ser dono de meia dúzia de casas seria um fardo. Frequentemente, uma vasta coleção de possessões termina por possuir o próprio possuidor. O ativo que considero mais valioso para mim além de saúde, são amizades interessantes, diversificadas e de longa data.
Minha fortuna surgiu de uma combinação de ter nascido nos Estados Unidos, alguns genes de sorte e juros compostos. Tanto eu quanto meus filhos ganhamos o que eu chamo de "loteria do ovário" (para os iniciantes: as apostas contrárias às chances de eu ter nascido nos Estados Unidos em 1930 eram, no mínimo, de 30 para uma. O fato de eu ser homem e branco também me ajudou a remover enormes obstáculos enfrentados pela maioria dos americanos). Minha sorte foi aumentada pelo fato de eu viver em um sistema de mercado que às vezes produz distorções, embora sirva bem ao país em geral. Trabalhei em uma economia que recompensa com uma medalha aqueles que salvam vidas em um campo de batalha, premia professores brilhantes com recados de agradecimento dos pais, mas igualmente recompensa aqueles que detectam preços baratos em ativos com somas que podem atingir bilhões de dólares. Em suma, a distribuição das palhas mais longas é verdadeiramente casuística.
Minha relação e a da minha família com a nossa enorme fortuna não é de culpa, e sim de gratidão. Se usássemos mais de 1% das minhas ações com nós mesmos, tanto nossa felicidade quanto nosso bem-estar estariam comprometidos. Por outro lado, os 99% remanescentes têm um enorme efeito na saúde e no bem-estar das pessoas. A realidade coloca um cenário muito claro para mim e minha família: mantenha tudo o que você de fato possa vir a precisar e distribua o restante para a sociedade e seus necessitados. Meu compromisso nos leva diretamente a este caminho.