Texto: Kathleen Toner
Foto: Imagem/Reprodução
CNN
http://www.cnn.com/2011/WORLD/americas/08/25/cnnheroes.patrice.millet/index.html?hpt=hp_t2
* Livre tradução resumida
Há cinco anos atrás, Patrice Millet descobriu que possuía um tipo raro de câncer ósseo em estágio avançado. Um transplante de medula era a única chance de sobreviver. O executivo haitiano passou por um tratamento de 9 meses e retornou para o seu país em 2007, determinado a começar uma vida nova, com aquilo que sempre sonhou: ajudar as crianças mais pobres do Haiti a terem um futuro melhor.
"Você vê crianças necessitadas todos os dias - estórias ruins, trágicas", diz Millet, 49 anos de idade."Por toda a minha vida, eu sempre quis fazer algo de bom para o meu país, para as crianças; então pensei: ´A hora é agora, não tenho nada a perder´".
Patrice Millet vendeu seu negócio de suprimentos para construção e iniciou um programa conhecido como FONDAPS - Fundação de Nossa Senhora do Perpétuou Socorro. O programa usa o futebol através da filosofia "educação através do esporte" para manter as crianças longe de problemas e ensinar valores para a vida.
"Eu quero que as crianças se tornem cidadãs", diz. "No futebol, você precisa de espírito de equipe, disciplina, esportividade...não é apenas sobre futebol, é sobre a vida".
Patrice começou focando seus esforços na região de Solino, uma das mais perigosas de Porto Príncipe. Sua mulher ficou temerosa, e não queria que ele fosse até lá recrutar crianças. Ele respondeu que preferiria morrer fazendo algo de bom ao invés de perecer numa cama. Lentamente, a desconfiança foi se desfazendo entre os locais e, hoje, centenas de crianças têm se beneficiado do trabalho da Fundação, que propicia a seus participantes todo equipamento (uniformes, chuteiras e locais para treinamento), transporte e inscrições para torneios locais.
"Quando você mora em guetos, é difícil ver o mundo lá fora. Eu tento trazer esperança para as crianças, mostrar que há outras opções na vida", diz Patrice.
Antes do grande terremoto que devastou o Haiti em 2010, o programa de Patrice Millet já havia se expandido para três bairros, reunindo 600 crianças - incluindo 150 meninas. A catástrofe devastou o Solino e novos desafios se impuseram ao programa. Uma das crianças morreu e muitos perderam amigos e familiares na tragédia.
"Quando o terremoto veio...ficou ainda mais difícil para elas. Hoje, a maioria vive em tendas, elas têm que lutar por tudo".
Dois dos três campos antes utilizados para a prática de futebol se transformaram em grandes cidades de tendas. o campo remanescente situa-se em uma região de difícil acesso para os garotos irem a pé, mas cerca de 200 ainda jogam futebol pelo programa. Patrice acredita que os tempos ainda mais difíceis ressaltaram ainda mais a importância do seu trabalho.
"Em Porto Príncipe atualmente quase não existem campos de futebol, então é muito importante que as crianças possam brincar...eu tento dar a elas alegria, a própria infância".
Patrice também é um mentor e exemplo para "suas crianças", que se ressentem da figura de um pai. Depois dos jogos, ele e outros técnicos sempre conversam com os garotos sobre suas vidas. Ele também procura reforçar a importância da educação, chegando a tirar do próprio bolso para pagar pelas despesas escolares deles.
"Eles sabem que não precisam roubar ou entrar para gangues. Eles sabem que podem fazer alguma coisa com suas vidas, e que podem acreditar em si mesmos".
Atualmente, a Fundação é de apenas um homem com orçamento limitado, mas isso não impede que Patrice busque incessantemente novas maneiras de ajudar seus jogadores. Uma vez por semana, eles recebem pacotes de arroz, feijão e massa para suas famílias. Patrice busca agora um ônibus para transportar as crianças até o campo, e sonha com o dia em que erguerá uma escola que ofereça atividades esportivas, culturais e de artes.
Apesar dos desafios para manter seu programa funcionando, não lhe falta motivação.
"Ver a alegria no rosto de uma criança, mesmo sabendo de tudo que ela vem passando...isso me deixa feliz", diz. "É maravilhoso ver o progresso que eles fazem no futebol, na vida, em tudo".
Jeff Fouvant é uma das crianças beneficiadas pela Fundação de Patrice Millet que depende da comida doada por ele para sustentar uma família de 10 pessoas sem pai - morto no terremoto - e que mora em em uma tenda. Além da comida, Millet paga também as despesas escolares.
Em 2009, o câncer de Patrice Millet voltou, mas ele vem tratando-o com medicações. Recentemente, ele passou algumas semanas nos Estados Unidos fazendo radioterapia, mas ele insiste que está tudo bem. Embora o câncer seja uma realidade da qual ele não pode escapar, ele diz que hoje é mais feliz do que antes do diagnóstico.
"Hoje percebo o quão importante a vida é, cada minuto. Ainda não estou pronto para morrer, pois tenho muitas, muitas coisas para fazer", diz.
O site da Fundação de Patrice Millet pode ser visto
aqui.