Charlie Williams é um garoto de doze anos que desde os cinco lutou contra um câncer. Depois de sete longos anos, surpreendentemente conseguiu se curar. Ao retornar normalmente às aulas, foi instado por sua professora a escrever um pouco sobre sua experiência. O resultado é a carta que se lê abaixo, em livre tradução. Ela se tornou aberta depois de emocionar a todos que a leram, dentre elas, sua mãe que aparece na foto e que foi às lágrimas na primeira leitura. Berkeley, a mãe, decidiu torná-la pública e Charlie consentiu que assim fosse, para que ajudasse a consolar e inspirar aqueles que ainda lutam para vencer a doença.
Reportagem: Bella Battle
Foto: Archant
The Sun
* Livre tradução
Esta é uma história de um garoto chamado Charlie, que foi diagnosticado com câncer quando tinha apenas cinco anos de idade.
Para ser mais preciso, no quinto dia do quinto mês de 2005.
Meu nome é Charlie Williams, e estive muito próximo da morte. Recentemente, descobri que não vou mais morrer.
No Hospital Addenbrookes tive de suportar tratamentos que incluíam radioterapia - onde me colocavam em um túnel cilíndrico por cerca de meia hora, o que é bastante assustador para uma criança de seis anos (minha idade na época).
Passei por várias sessões de ressonância magnética, também em um túnel cilíndrico que emite todos os tipos de ruídos, enquanto você está dentro.
A quimioterapia era realizada todos os meses, por meio de uma intravenosa inserida no meu peito, como uma transfusão, e durava algumas horas por sessão.
Eu também era obrigado a passar por diversas transfusões de sangue.
Agulhas não são a melhor coisa do mundo, e elas de fato me assustavam, então imagine como eu me sentia, sendo uma criança, ao vê-las sendo inseridas em mim repetidamente. Hoje, já estou acostumado a elas.
Você acha que poderia lidar bem com toda esta situação? Como você acha que isso te afetaria como ser humano?
Estar doente, sabendo que há uma probabilidade de você perder as coisas mais importantes de vida faz com que você valorize estas coisas.
Por exemplo, coisas materiais como computadores e calculadoras, até mesmo canetas e lápis, tornam-se especiais porque você percebe que sem elas, não teria as ferramentas para a sua educação.
Um simples lápis pode não significar nada para uma criança em minha escola, mas para uma criança, digamos, de uma aldeia pobre da Uganda, pode ser simplesmente o início de uma vida voltada à educação permanente.
Eu penso sobre estas coisas agora, depois de estar doente por tanto tempo.
Na maioria das salas de aula desta escola, sempre haverá uma criança (às vezes duas, até três) que irá distrair o resto da turma fazendo algum tipo de brincadeira. Isso acontece várias vezes, talvez a cada cinco minutos, às vezes a cada minuto.
Quem faz isso parece querer ser o centro das atenções - usa a sala de aula como se fosse seu palco para se exibir. Esta pessoa não parece se importar que existam outros lá realmente interessados em aprender o assunto do qual o professor está explicando. Seu objetivo é apenas o de distrair qualquer outra pessoa que, como ele, não se preocupa com o aprendizado.
Esta pessoa está, essencialmente, sendo egoísta. Eu observo pessoas assim e me pergunto: por quê?
Uma vez ou outra, eu também irei me comportar mal. Todos nós, sejamos crianças ou adultos cometeremos esse tipo de atitude, é parte do crescimento. Mas como eu disse, é uma vez ou outra, e não a toda hora.
Estar gravemente doente faz você pensar sobre esse tipo de atitude, porque você começa a refletir sobre o que é importante ou não.
Imagino como seriam estas crianças, que não se importam com nada, se um dia soubessem que têm câncer, como aconteceu comigo.
Será que isto iria mudá-las?
Para todas as crianças, a comida não é apenas vital, você realmente adora comer coisas gostosas como chocolate, cheeseburgers, batatas fritas, doces, bolos, salsichas, assados e várias outras coisas.
Imagine então passar vários dias incapaz de colocar qualquer coisa, mesmo uma gota de água, em sua boca.
Quando você passa por tantas operações e ingere tantos medicamentos, você simplesmente não consegue manter nada no estômago. Enquanto estava no hospital, eu ia à cantina e observava as pessoas comendo, enquanto eu não podia ingerir nada. Imagine se você fosse esta pessoa, literalmente faminta, pensando apenas em comida o tempo todo e, no entanto, obrigada a jejuar por tantas horas.
Uma vez que eu não podia comer muito, havia um tubo no meu nariz (parece horrível, mas você tem que ter o que precisa para sobreviver) atado a uma pequena máquina, equipada com uma garrafa de vidro, que me dava tudo o que eu precisava para nutrir-me.
Todo este tempo em que não pude comer como uma criança normal deixou meu apetite um pouco perturbado de início, mas hoje estou mais seguro das coisas de que gosto e posso comer salsichas à noite!
Os pais podem parecer injustos ou não deixá-lo fazer as coisas que você quer, mas vão sempre estar ao seu lado. Eles te alimentam, eles te vestem e te dão um lar, mas o mais importante é que sempre estarão por perto quando você estiver mal.
Minha mãe e meu pai sentaram-se comigo, dia após dia no hospital, sofrendo o que eu sofria com todos os tipos de tratamento os quais eu não podia suportar. Sei muito bem o que os pais passam quando vêem os seus filhos imersos na dor. Tenho certeza de que quando fui diagnosticado com tumor cerebral, eles achavam que eu não iria sobreviver. Você pode imaginar seus pais pensando que você irá morrer?
Agora que ouviu o relato real de um sobrevivente de câncer, espero que minha história tenha tido algum impacto em você a ponto de permitir uma reflexão sobre sua própria vida.
Eis-me aqui, uma criança normal que teve uma jornada terrível no início da infância.
Mas também uma criança que tirou algo de positivo nisso tudo. Hoje, sou mais sério e penso mais sobre a vida. A doença ensinou-me a me comportar melhor na escola e a trabalhar mais. O câncer me fez dar um passo para trás e olhar pela janela da vida para contemplar o que está à minha frente.