Quantas lições podem ser extraídas dessa estória, que parece saída de filmes de Hollywood? A reportagem é extensa, mas vale a pena ler até o final!
Reportagem: Mary Harris/Colleen Williams
msnbc.com
*Livre tradução resumida
Franky Carrillo caminha pelo campus da Loyola Marymount University finalmente como um homem livre. Ele passou 20 anos atrás das grades por conta de um assassinato que não cometeu.
Enquanto esteve encarcerado, Franky recebeu seu diploma de ensino médio, mas ele diz que sempre sonhou em ir para a faculdade. Hoje, ele é um calouro de 37 anos que estuda por meio período na universidade. Ele diz que se sente muito bem recebido pelos colegas e funcionários, e que o local tornou-se um "santuário" para ele.
O caminho para este santuário, no entanto, foi longo e tortuoso.
Em 1991, quando tinha apenas 16 anos e vivia em Maywood, estado da Califórnia, Franky costumava andar com maus elementos, mas nunca havia se metido em encrenca. "Eu realmente não era um santo, mas tampouco um assassino", diz.
Foi no dia 24 de janeiro daquele ano, quando tinha 15 anos, que ele viu sua casa ser invadida pela porta da frente por agentes policiais com armas em punho. "Meu pai disse em espanhol e eu disse em inglês: 'O
que está acontecendo?! Por que tudo isso??' Finalmente alguém
disse, 'Você sabe por quê´. E isso é tudo que nos disseram ", diz.
Franky conta que na verdade, uma gangue de policiais corruptos e racistas de Los Angeles - conhecida como o "Lynwood
Vikings" - coagiu e ameaçou testemunhas-chaves para identificá-lo como assassino de um crime através de fotos. Ele foi então condenado por homicídio e sentenciado a duas
prisões perpétuas consecutivas.
Quando fala sobre o período passado na prisão, ele usa
palavras como "desumano", "desmoralizante" e
"isolado". Passou seus últimos 10 anos na prisão de Folsom, onde diz que temeu por sua segurança. "Eu tinha muito medo, mas acho que ter medo foi uma das coisas que ajudaram a me manter vivo, pois eu me mantinha muito ciente de tudo o que me rodeava", conta ele.
Franky diz que sequer conhecia a vítima do assassinato, e
que estava em casa assistindo à TV quando o dito tiroteio aconteceu. Sabia apenas que um erro havia sido cometido, o sistema havia se desviado e enviado para a prisão o
"cara errado". Franky queria provar a sua inocência a todo custo. Ele começou uma
campanha através de cartas escritas, implorando que advogados e meios de comunicação o ouvissem.
Finalmente, alguém ouviu. Seu nome: Ellen Eggers.
Franky define a advogada Ellen Eggers como um "anjo" que
"vive e irradia justiça". Ellen diz que se convenceu da inocência de Franky já no primeiro encontro - não apenas pela sua
seriedade e boas maneiras, mas principalmente porque ele tinha provas
sobre o verdadeiro assassino.
Elen trabalha como defensora pública no norte da
Califórnia, e é especializada em casos de pena de morte. Como Franky era menor
de idade quando foi condenado, acabou pegando prisão perpétua e não a pena de morte e, portanto, seu caso acabou passando despercebido pela advogada.
No entanto, ao saber das circunstâncias do caso de Franky, ela mergulhou de corpo e alma, determinada a libertá-lo. Ela abriu mão de finais de
semana, verões e férias para provar a inocência do seu cliente injustiçado. Ela diz que foi um
projeto que a consumiu. "A experiência de passar tanto tempo com Frankie praticamente me fez ficar atada a ele. Eu literalmente senti que estava trancada
com ele", disse ela.
Um dos maiores desafios de Ellen Eggers foi trabalhar em cima das provas exclusivamente baseadas em testemunhas oculares. "Não havia DNA no caso de Franky. Não havia sequer uma
arma. Quero dizer, tudo era apenas testemunho ocular", diz.
Ellen descobriu, portanto, que para ter
alguma chance de revogar a condenação de Franky, todas as testemunhas teriam de
renegar o seu testemunho. Foi uma tarefa difícil. Ela diz que os testemunhos escritos à mão fornecidos por Franky foram fundamentais na abordagem às testemunhas, para que elas percebessem que "um erro havia sido cometido."
No tribunal, todas as testemunhas se retrataram. Durante um momento comovente e surreal do novo julgamento, uma
testemunha-chave pediu perdão a Franky, e ele a perdoou, diz Ellen.
Mas o jogo não estava ganho. Testemunhas que mudam seu depoimento original são frequentemente vistas com ceticismo - e é por isso que Ellen implorou ao juiz para que fosse ver o
local exato onde os adolescentes diziam ter sido capazes de ver Franky atirando. "É absolutamente indispensável que o tribunal veja por si mesmo! Assim, não há necessidade de se saber se as testemunhas disseram a verdade naquela
época, ou se estão dizendo a verdade agora", disse Ellen ao juiz.
As equipes de perícia e o juiz visitaram, então, a cena do crime em
uma noite em que a lua era semelhante ao da noite do homicídio. Em seguida, foi simulado o tiroteio. Esta ida a campo se revelou inestimável. Ellen
diz que provou ao juiz de que era impossível a identificação do atirador naquelas condições, por qualquer um que estivesse de pé na calçada".
Em 14 de março de 2011, a Promotoria admitiu a inocência de Franky e, dois dias depois, ele saiu da prisão. Sua condenação foi anulada. Ele era livre.
Embora esteja estudando meio-período, Franky foi aceito como aluno
Loyola Marymount University em tempo integral para o outono de 2012.
O Presidente da universidade, David Burcham, diz que quando conheceu
Franky Carrillo ficou impressionado com a sua "dignidade", e que a
escola sentiu a "obrigação de ajudar."
"Como você sabe, quando um processo judicial é movido contra uma
pessoa neste estado, a decisão é dita em nome do povo do estado da Califórnia. Pois bem. Nós
pensamos que, quando um erro é cometido, o povo da Califórnia tem a
obrigação de tentar ajudar ", disse Burcham.
Franky é agora um homem ocupado em construir um futuro pleno e
significativo para si mesmo. Além de ser um estudante, ele é politicamente
ativo em lobbies contra a pena de morte. Leciona no campus e fala aos estudantes sobre suas experiências. Também é voluntário em um orfanato em Tijuana.
Seu trabalho no orfanato claramente o deixa animado. Ele se
refere a ele como "uma prisão de criancinhas foram esquecidas." Lágrimas vertem quando quando fala sobre a conexão que sente com uma criança pequena. "Ela me leva de volta ao tempo da prisão, quando estava desprovido da condição de ser ´apenas´ um ser humano com emoções",
diz.
Apesar de ter tido experiências inacreditavelmente ruins,
Franky diz que acredita na justiça e no perdão, e espera ajudar os outros da melhor forma que puder.
Enquanto esteve na prisão, ele perdeu muitas coisas. Seu filho nasceu. Seu pai morreu. Ele diz que lhe dói pensar que seu pai
não viveu para vê-lo livre. Franky Carrillo perdeu 20 anos - anos de juventude, anos dos quais a
maioria das pessoas vai para a faculdade, encontra o amor e constrói carreiras.
Ao conhecê-lo pessoalmente, é difícil não reparar na sua boa
índole. Educado. Esperançoso. Ele diz que embora tenha motivos para ser uma pessoa amarga, ele simplesmente não o consegue. "Eu não tenho amarguras. Elas derrotam o propósito de querer
ser livre. Eu não poderia imaginar minha vida agora como homem livre estampando uma
careta no rosto."
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